quinta-feira, 21 de março de 2013

Quando se expor vale a pena (pra Barbara Gancia)





Passado o êxtase de O Voo, eis que Astrid Fontenelle e suas companheiras de Saia Justa comentam sobre o filme. E o que entra em discussão é justamente essa questão do dependente achar que tem o controle da situação.
Quando eu penso que a coisa vai ficar restrita aos comentários sobre o filme ou alguém iria ilustrar com a história de outra pessoa, eis que Barbara Gancia, uma das participantes, se expõe num depoimento que valeria a pena ouvir por horas.
Ela relatou o seu passado de alcoolatra. Mas não foi apenas contar uma situação ocorrida. Foi levantar essa bandeira do quanto é difícil para o dependente entender que só ele acha que tem o controle. Relatou, em 1a pessoa, os esquemas mirabolantes que criava para conseguir comprar bebidas, achando que fazia algo escondido.
Esses esquemas no fim nada mais eram do que um desperdício de energia e de tempo, pra tentar passar uma imagem de pessoa controlada – que na verdade já tinha caído por terra. Aos olhos dos outros e na prática.
O mais legal é que não foi sensacionalismo. Ela no comentário sentiu que nada melhor que a realidade para ilustrar tal situação. E fez-se o silêncio, apenas para que a verdade de Barbara que se adequava tão bem ao assunto prevalecesse.
Esse tipo de exposição é válida. Não pra que “sirva de exemplo”. Mas para ampliar a discussão mesmo. Pra que alguns sinais que ela apresentou e passaram batido em casa, talvez liguem o alerta na casa de alguém.
Enfim, prestem atenção no filme. E se assistirem ao Saia Justa ou encontrarem algo de Barbara Gancia por aí, prestem atenção. Vale a pena, e muito.

“Eu sei me controlar....”





Como sempre acontece quando um filme do Denzel Washington chega aos cinemas, corri pra assistir sem nem me preocupar com o roteiro.
Eis que esse é um roteiro e tanto. O VOO trata de um piloto, que consegue salvar quase todas as vidas num acidente aéreo que tinha tudo pra não sobrar um pra contar história. Mas...
A questão é que o tal Whitaker é viciado em cocaína e alcoolatra. Porém, é o que podemos chamar de um alcoolatra funcional. Mesmo alterado, conseguiu salvar muitas vidas, conseguia desempenhar sua tarefa e seria chamado de herói, caso não fosse feito um exame toxicológico. Por mais talentoso que ele fosse, contou – e muito – com a sorte nos voos que deram certo.
Esse é o mérito do filme. Não rotula o dependente como incapaz, não passa aquela imagem antiga do alcoolatra na sarjeta. Porém, deixa claro que quando há o discurso do “eu sei me controlar”, uma hora a coisa acaba mal.
Um super desafio pra Denzel Washington. Politicamente incorreto até o talo. Mas abre uma discussão importantíssima : apesar de ser um profissional respeitado por aqueles que não conheciam esse detalhe, sua vida pessoal era uma tragédia e ele, na tentativa de inventar desculpas e mais desculpas para justificar seu vício, acabou por destruir sua família. Sua esposa havia desistido e seu filho não tinha por ele uma gota de respeito.
Fica a questão : o que precisa acontecer para que o indivíduo tome consciência de que o uso recreativo transformou-se numa doença? E como tal, nem sempre é possível controlar...